domingo, 20 de abril de 2008

Angústia

"E divergi dele, porque o achei horrivelmente antipático. Ouviu-me atento e mostrou desejo de saber o que eu era. Encolhi os ombros, olhei os quatro cantos, fiz um gesto vago, procurando no ar os fragmentos da minha existência espalhada.
- Luís da Silva, Rua do Macena, número tanto. Prazer em conhecê-lo."

(Graciliano Ramos, Angústia, p.46)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Poesia

Há alguns anos atrás (não sei ao certo quantos, mas sei que são muitos) no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, no dia 12 de junho, dia dos namorados, foi publicada uma seleção de poesias que tinham a ver com a data. Gostei muito de uma, recortei e coloquei na carteira.

Dia desses, comprei uma carteira nova e ao transferir meus pertenceus e meu pouco dinheiro pra ela, achei a poesia. Continua linda...


O meu amado tinha indignações enormes

O meu amado tinha indignações enormes.
Andava de um lado para outro em minha frente:
não se conformava com os conformados, os corruptos,
os medíocres e os vendidos deste mundo.
Não se conformava com a miséria, a dominação, o desvalimento.

Não se conformava também quando não o entendiam.
Passava a mão pelo cabelo grisalho
e ardia como um jovem de dezoito anos na sua ira:
"Tenho vocação é de terrorista"

(Eu escutava, com medo de que ele saltasse da varanda
levado pelo vendaval de seu furor de justo.)

Depois, ele fechava as portas de vidro sobre a noite quente,
me pegava pela mão, dizia:
"Vamos dormir."

E então era todo mel e ternura.

Lya Luft



E continua na carteira...